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  • Foto do escritorVanessa Barcellos

“Alice Júnior”: um filme leve, crítico e que foge dos padrões!

Texto produzido para o blog Telas Por Elas.


O filme “Alice Júnior” lançado no ano de 2019 e recém disponibilizado no catálogo da Netflix, aproxima gerações á um debate importantíssimo: a transexualidade. O longa vai muito além de um filme adolescente que estamos acostumados a ver por aí, ele rompe padrões e nos faz sentir na pele toda dor e desconforto que um transexual sente diante do preconceito escancarado da sociedade.


Gil Baroni, destaque em premiações nacionais e internacionais, como o Festival do Rio e o Festival de Berlim, é também o diretor do filme. A abordagem do diretor sobre a transexualidade é didática e esclarecedora, partindo do pressuposto que ninguém nasce sabendo. Mas ainda assim, ele não foge de um debate forte sobre o tema quando necessário.


O enredo


Em “Alice Júnior” conhecemos a história da personagem que dá nome ao título do filme interpretada por Anne Celestino Mota. Alice é uma youtuber do Recife que se vê obrigada a se mudar para Araucárias do Sul. O motivo? O pai de Alice, Jean (Emmanuel Rosset), trabalha como criador de fragrâncias e precisa ir para o interior estudar sobre uma fruta típica da região e criar um perfume único e surpreendente. A jovem que até já participou de um reality show de moda e beleza, se vê deslocada em um momento em que estava muito bem resolvida consigo mesma.


Este é um dos pontos importantes do filme. Na história, quando conhecemos Alice percebemos que ela está bem com o seu corpo e é segura de si. Ela não quer ser aceita ou validada pela sociedade cis, Alice não precisa disso. Alice Júnior é como muitas adolescentes mundo afora: passa a maior parte do tempo livre na Internet, vive um amor platônico e fantasia com o primeiro beijo, enquanto lida com dramas escolares que envolvem bullying, triângulos amorosos, aceitação em grupos de amigos e questões de autoimagem. A diferença é que por ser trans, problemas como estes, que já são graves para muitas mulheres na adolescência, se tornam ainda mais intensos.


Foto: Reprodução.

Em relação a estética e trilha sonora, “Alice Júnior” dá um show! O filme traz ainda mais essa jovialidade da personagem através de recursos visuais. Uso de memes interpretados por nossa amada Gretchen dão um ar cômico logo no começo do filme e durante todo o longa são usados elementos gráficos para representar a internet e até intensificar os sentimentos de Alice. E ainda temos Pabllo Vittar, Gloria Groove e Mc Xuxú, brilhando na trilha sonora do filme.


Um dos destaques do filme é a relação de Alice com seu pai. Jean é um homem cis, branco e hétero que indo de contramão ao que vemos por aí, aceita, enaltece a diversidade de sua filha e está do lado dela em todos os momentos, dando apoio e suporte. Nesse momento percebemos que não deveríamos estranhar a relação criada entre pai e filha no filme, é assim que deveria ser, não é? Mas é inegável notar o contraste com a realidade em uma sociedade intolerante e transfóbica. Só no ano de 2020, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), já foram mais de 80 assassinatos contra a população LGBTQIA+. Um outro contraste é notório através da realidade trans além do preconceito. A realidade de Alice Júnior não reflete na sociedade. Cerca de 90% das mulheres transexuais ou travestis hoje estão na prostituição. Além disso, ainda segundo a ANTRA, 72% dessas mulheres não termina o ensino médio e que 13 anos é a idade média para serem expulsas de casa.


Em uma entrevista, o diretor Gil Baroni disse que eles queriam colorir a história trans. E percebemos através destes contrastes que foi de fato mais colorido! Mas engana-se quem pense que há uma romantização ou alienação sobre o tema, o filme propõem uma ruptura do que estamos acostumados a ver por aí no cinema transexual e ainda traz algo novo. O filme traz uma mulher trans nordestina, cheia de orgulho de quem é e rompendo os preconceitos transfóbicos, machistas e xenofóbicos em uma só história.


Foto: Reprodução

Por esses motivos um filme como “Alice Júnior” se torna extremamente essencial. Não somente o filme como também Anne Celestino, que abre caminho para uma trajetória brilhante de empoderamento transgênero na arte e no cinema brasileiro. “Alice Júnior” é um filme repleto de críticas feitas de forma leve e direta, que nos faz refletir sobre aceitação não só do outro como também, e principalmente, de nós mesmos.


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