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Carol Barcellos: de aspirante de jornalista econômica a jornalista esportiva de sucesso

  • Foto do escritor: Vanessa Barcellos
    Vanessa Barcellos
  • 17 de jul. de 2019
  • 11 min de leitura

Atualizado: 7 de out. de 2020


Texto feito para uma disciplina no curso de Jornalismo da UFF.


Formada pela UFF, repórter do Planeta Extremo conversa sobre sua vida e trajetória no jornalismo


Vanessa Barcellos e Andressa Buzzani



Carol Barcellos. / Foto: Divulgação

Jardim Botânico, La Bicyclette, às 13h40. Estávamos levemente atrasadas, mas a caminho do local, quando vimos uma mensagem enviada pela jornalista Carol Barcellos ainda naquela manhã: “Tive problemas no trabalho, mas estamos confirmadas hoje. Shopping da Gávea às 15h”. Naquele momento não sabíamos o que fazer, já estávamos dentro do ônibus a caminho do local que fora marcado dias atrás. Por sorte, o ônibus também passava pela nova locação sugerida por Carol. Antes, estávamos atrasadas, mas agora o que não nos faltava era tempo até a entrevista começar.

Às 15h como marcado, a repórter do Planeta Extremo, da TV Globo, nos encontrou em frente a uma cafeteria do Shopping. Quem olhasse de fora, com certeza não perceberia que o encontro se tratava de uma entrevista. Em clima de conversa, ela nos contou sobre sua carreira e vida. Durante toda a entrevista, Carol fez questão de nos incluir em seus pontos de vista por entender que não é maior ou melhor do que qualquer outro jornalista ou estudante em formação. Hoje, atua na área do Esporte mas não se fecha para outras oportunidades. Nessa área, aprendeu muitas coisas e passou por experiências que nunca imaginou viver. Mãe de Júlia, 5 anos, Carol Barcellos se sente realizada, mas conta que está sempre em busca de se testar em novas situações.


Qual foi sua trajetória no jornalismo? Os lugares onde trabalhou e o caminho que percorreu até chegar onde você está hoje?

Eu fui estagiária da Globo, entrei na Globo bem cedinho. Na verdade, eu estagiei na Agência Efe, não sei se vocês conhecem, é uma agência internacional de notícias, eu fiquei dois anos lá. Depois, estagiei na Bandeirantes, na editoria de Cidade. Aí cheguei a trabalhar um dia no extinto Jornal do Brasil, porque era meu sonho. Eu sempre quis trabalhar em impresso, nunca quis fazer TV. Eu trabalhei só um dia no Jornal do Brasil porque eu estava fazendo o processo de seleção da Globo e à noite fiquei sabendo que tinha passado. Apesar de preferir o impresso, eu já tinha saído de casa e já não morava com a minha mãe, e a bolsa da Globo era muito melhor. Com isso, fui para a Globo estagiar e fiquei. Não queria Esporte no primeiro momento, mas surgiu a oportunidade na época e eu aceitei. Em seguida, fui para o SporTV e lá fiz de tudo um pouco: fui produtora, editora, hoje sou repórter mas, às vezes, fui apresentadora, também gosto de entrar na ilha e acompanhar a edição das minhas matérias e tento produzir alguma coisa. Foi assim… Fui para o SporTV e em 2008, eu acho, me chamaram para ser repórter de Esporte da Globo.

Formar uma pessoa que seja crítica e que seja humana é mais importante do que você sair de uma faculdade falando “Ai meu Deus! Eu sei o que é um TC, eu sei decupar”.

Em uma entrevista que você deu no Controversas, na UFF, você mencionou que no começo queria Economia. Como você foi parar no Esporte? Foram as oportunidades que surgiram no caminho?

Eu queria muito Economia e até durante a faculdade eu fiz alguns cursos sobre o assunto. No IBMEC tem um, na Fundação Getúlio Vargas também. Eu coloquei na prova (para a TV Globo) Economia, a minha nota foi muito melhor em Economia do que em Esporte. Porque esporte eu praticava, mas não era uma coisa que eu lia no jornal todo o dia, que eu acompanhava pra caramba. Na época, era o Marcelo Barreto, vocês sabem quem é? Ele faz o SporTV (…). Ele foi fazer a seleção e acho que ele e uma outra pessoa ficaram assim “Pô, e aquela menina? Vai para onde? Ela tem a maior cara de Esporte!” Aí, me chamaram para Esporte, foi a chance que eu tive na época, aí eu falei “Ah vamos ver, né?! De repente isso aqui dá certo”. Mas eu não descarto trocar ainda não, um dia, não sei se eu fico para sempre.


Você possui formação na Universidade Federal Fluminense. Nós estamos estudando lá, e adoraríamos ouvi-la falar sobre sua formação. Teve algo especial que marcou?

É engraçado, porque não sei como é que é hoje, mas tem um histórico em universidade federal da parte prática não ser tão boa, porque realmente falta estrutura. Nada do que eu aprendi em TV eu tive muito contato lá, mas eu não acho que tenha me feito tanta falta. Eu acho que a outra parte, mais teórica, eu lembro que foi muito boa para a minha formação. A parte prática, de verdade, você passa uma semana em uma TV e aprende. (…) A base teórica é muito importante. Você está formando uma pessoa, porque o jornalista é mais do que a técnica, eu acho que ele tem que ter muita ética e eu ainda acredito que tenha que ser uma pessoa do bem, sabe?! E isso eu acho que em qualquer profissão, mas no jornalismo também. Eu acho que você formar uma pessoa que seja crítica e que seja humana é mais importante do que você sair de uma faculdade falando “Ai meu Deus! Eu sei o que é um TC, eu sei decupar”.


Em algum momento você pensou em desistir do curso de Jornalismo? Qual foi a parte mais difícil do curso para você?

Durante o curso teve um momento que eu pensei se eu largava para fazer Direito. Eu lembro que no vestibular eu não sabia se escolhia Direito, Economia ou Jornalismo. Teve um momentinho ali mas, cara, foi por pouco tempo porque eu gosto muito de falar, de me comunicar, sempre gostei. Eu gosto de escrever, gosto de ler e o jornalismo tem uma sedução, um encanto. (…). Eu acho assim, que tem sorte, eu realmente acredito, mas eu acho que também depende da vontade de vocês, sabe?! Muito. É o quanto você quer as coisas, o quanto você se dedica, o quanto você bota o seu coração naquilo que você tá fazendo. Porque senão, realmente, você é mais um e tem muitos. Muitos.


Nós acompanhamos o Planeta Extremo e vimos toda a situação que ocorreu enquanto estavam no Nepal. Foi muito difícil ter que lidar com o desconhecido, em situações inesperadas e momentos de desastre enquanto trabalhava?

Nepal acabou virando um marco para a gente. Nós estávamos, na verdade, indo para uma viagem que era uma reportagem bem tranquila. A gente estava na estrada, no caminho para começar a gravar quando aconteceu o terremoto. Eu acho que a maior mudança foi pessoal, mais do que profissional, porque a gente viu muitas coisas que eu espero que muita gente nunca veja. Profissionalmente, acabou virando um marco também porque primeiro a gente saiu do esporte. Isso, por um lado, foi uma oportunidade. Porque eu não acho assim: você é um jornalista esportivo. Não, acho que jornalista é jornalista. Você tem que contar história, é o que a gente faz, a gente conta história.


Conta para a gente.

Teve um episódio marcante, que foi na embaixada, quando eu me assustei e que depois eu fiquei sabendo que repercutiu pra caramba. Que até o Zuenir Ventura – por quem sou apaixonada, porque para mim ele é um dos caras que escrevem de um jeito fácil e bonito – acabou escrevendo uma coluna falando justamente da minha reação. Quando eu voltei foi curioso porque muitas pessoas, inclusive as que não assistiam o Planeta e também pessoas de outras faixas etárias, se aproximaram muito de mim. Eu senti a diferença. Mas, por outro lado, fiquei sabendo que muito jornalista me criticou. Eu achei isso muito engraçado, cara. Acho fácil pra caramba essa galera que critica com a bunda sentada no sofá. Eu tive medo. Foi isso, gente. A minha reação foi de medo. Ponto. Eu tinha passado a manhã no hospital, a gente entrou em uma emergência. Emergência do Miguel Couto é um passeio de criança perto da emergência em um terremoto no Nepal. É óbvio que eu estava sensibilizada. Eu não sou bicho. A gente fez o melhor que a gente pôde. A gente trabalhou com o nosso coração, com ética, porque eu acho que nessa hora, quando você vai conversar com uma pessoa que acabou de perder alguém, você não pode chegar preocupado em tirar a emoção. Não, você tem que ter respeito primeiro pela dor da pessoa, e foi o que a gente tentou fazer.

A TV é uma equipe. Todo mundo pode te ajudar e todo mundo pode errar também.

Além dessa experiência impactante do Nepal, no dia a dia da profissão, você já passou por situações de improviso? O que você costuma fazer nesses momentos?

No dia a dia você lida com improviso toda hora quando você faz ao vivo, mas eu adoro. No Nepal foi um improviso diferente, porque ali foi um caso muito específico de uma tragédia. Hoje mesmo, no Bom dia Brasil, eu fui começar a chamar os gols. Só que eles colocaram errado, no meio da cabeça eles começaram a rodar os gols. E, assim, em um segundo você pensa trinta mil coisas sabe?! Pensei: “Caraca, estão rodando os gols”. Aí dei uma enrolada, quando eu vi que entrou no Vasco, eu voltei pra cabeça e fui. Ao vivo você faz isso toda hora.


Você tem alguma tática para situações como essas?

Ah, ao vivo acho que é você estudar. Eu adoro fazer vivo, é o que eu mais gosto de fazer. Mas eu tenho mania de fazer vivo na rua sem papel. Não gosto de estar com papel. Primeiro, porque eu não gosto de ler, tenho horror, de jeito nenhum! Eu prefiro ir contando. Mas às vezes você coloca umas coisinhas no papel, umas palavras-chaves pra você não esquecer. Eu muitas vezes acabo fazendo até isso, não sei se é bom, só que tem dias que a cabeça falha né? Tipo hoje. Eu tinha visto e revisto os gols várias vezes na ilha antes de ir. E, cara, se você não viu, e chega lá de surpresa, e ainda dependendo do texto, você esquece. Tudo pode acontecer sabe?! A TV é uma equipe. Todo mundo pode te ajudar e todo mundo pode errar também.


Você já realizou diversas entrevistas e reportagens. Você tem alguma técnica para entrevista ou para aproveitar bem as pautas?

Eu acho que ainda não sou boa entrevistadora, não. Essa é uma coisa que às vezes eu fico na dúvida. O que funciona pra mim é estudar antes aquilo ali, tipo ler o que eu vou fazer e na hora meio que conversar. Pra mim é melhor do que ter as perguntas prontinhas, sabe? Acho que pra cada um é de um jeito. Tem ótimos entrevistadores que vão ali e pronto. Claro que tem entrevistas e entrevistas. Tem umas mais pesadas, que você precisa estar com tudo ali pra não dar mole e não esquecer. Mas as entrevistas de dia a dia, eu acho que conversando você consegue quebrar o gelo da pessoa. Porque tem muita gente que ainda não gosta de lidar com câmera. Tem gente que fala super bem e na hora que você liga a câmera, trava. Ir conversando e ser curioso. Você querer realmente conhecer aquela pessoa, saber o que ela tem de diferente. 

Eu sempre trabalhei com muito homem. No Planeta Extremo, por exemplo, eram dez homens e eu. Sempre tive muito uma coisa de me impor, sabe?

Você é um dos nomes femininos do jornalismo esportivo no Brasil. Como mulher, é muito importante ver você nos representando nessa área que infelizmente ainda é muito masculina e machista. Você já passou por alguma situação desagradável por ser mulher e trabalhar no esporte?

Sabe que eu nunca passei por nada assim? Eu sempre trabalhei com muito homem. No Planeta Extremo, por exemplo, eram dez homens e eu. Sempre tive muito uma coisa de me impor, sabe? De exigir um certo respeito, acho que eu nunca aturei certas brincadeiras. Por isso quando eu frequentava Clube, que é um ambiente muito masculino, nunca me senti constrangida, nem nada. Mas ainda é um meio que tem que mudar muita coisa. Mas mudar não só ali dentro, mas como as pessoas veem. As pessoas se surpreenderem menos ao verem uma mulher fazendo Esporte. Até porque, ali, nós somos jornalistas, a gente tá contando uma coisa. A Glenda (Kozlowski), por exemplo, tá aí há bastante tempo e é maravilhosa, provando 300 vezes que dá pra fazer. No Planeta eu senti um pouco isso, quando comecei. A gente tinha uma coisa meio que do desconhecido, sabe? “Será que isso aqui é pra mulher? E essa pauta, será que dá pra ela?” A gente tinha uma escalada de Sequoias e ficaram na maior dúvida pensando: “Será que ela tem condição de fazer?” Não sabiam se eu teria força, e eu falei: “Pô, deixa que eu vou treinar e vou”. Dei meu jeito de fazer e deu certo, a gente conseguiu fazer. Mas isso eu acho que é um processo bem longo ainda pra sociedade, na verdade. Ainda é muito difícil. A gente ainda tem que ficar provando que consegue fazer as coisas, e isso sinceramente é bem chato! Mas acho que se é o único caminho, tudo bem também. Vamos lá, não tem problema, a gente prova que consegue fazer.


Você teria algum conselho para dar para os jornalistas em formação?

Não sei se eu acredito muito em dica. Porque parece que eu estou dando o caminho, tipo “Faz isso aqui que vai dar certo”. E eu acho que não tem o que fazer para dar certo. Eu vejo o Pedro Bassan, que é o cara pra mim que tem o texto mais maravilhoso da televisão, e eu falo: cara, eu admiro o Bassan, mas ser minha referência? Não tem como ser. Eu nunca vou escrever como o Bassan. Uma das coisas que eu gosto, quando ligo a televisão, é ver que a pessoa está sendo ela mesma. Como a Silvana Ramiro. Eu conheço a Silvana, e eu olho a TV e vejo que ela é aquilo ali. Eu gosto quando vejo que a pessoa não é um personagem. Que a pessoa tá trabalhando, tá me contando as coisas, mas que eu vejo que tem um sentimento, sabe?! Não gosto de personagens, não acho que é isso que passa credibilidade.


No dia 29 de novembro de 2016, ocorreu um acidente envolvendo o meio esportivo que abalou o mundo. Nós acreditamos que a tragédia da Chapecoense nunca vai ser superada. Como foi pra você ser jornalista esportiva e fazer jornalismo naquele dia em que você perdeu amigos e colegas que estavam indo exercer a profissão?

Qualquer um de nós poderia estar naquele avião, foi um acidente. No Nepal, a gente já entrou em aviões muito piores do que aquele. Sabemos que foi um acidente criminoso, né? Que houve um erro do cara, um erro da companhia. Mas eu prefiro não pensar nisso, porque eu acho que a raiva nessa hora não adianta. Eu perdi um dos meus melhores amigos. O Ary Júnior, cara, trabalhou com a gente e era o repórter cinematográfico do Planeta Extremo. Um cara que, no Nepal, estendeu a mão em vários momentos. Dormiu no chão, dividiu comida, passou por vários perrengues com a gente. E aí eu vi o cara morrer num avião da Chapecoense. Um cara que passou por várias situações de risco já, nas nossas gravações, e aí morreu num dia em que a gente nem tava lá do lado dele. Mas vai saber? Não era pra gente estar e tinha que acontecer. E a gente depois só pedia para que ele estivesse em paz.


Então, você é mãe e tem uma filha pequena. E nós gostaríamos de saber como é a relação dela com a sua profissão. Se ela gosta de assistir, e o que ela acha de ver a mãe na televisão? E como você concilia a Carol Barcellos mãe da Carol jornalista?

A gente passou por muitas fases. Ela era pequenininha quando eu comecei o Planeta e foi  muito difícil. Eu treinava pra caramba, viajava pra caramba e ela tinha tipo 1 ano. Para mim e para ela foi um processo muito difícil. Hoje ela já entende um pouquinho, porque já viu algumas coisas que eu fiz. E aí a gente passou por uma outra fase, em que ela começou a ficar com um pouco de medo, porque ouvia as pessoas falarem do meu trabalho. E nisso ela começou a ter medo e não queria que eu fosse trabalhar. E aí um dia ela falou: “Mãe, eu não quero que você vá pro trabalho porque eu tô com medo de você morrer.” Alguém falou alguma coisa pra ela, né? Ai a gente sentou, conversou e ficou tudo certo. Hoje ela curte ver às vezes, uma vez ou outra, mas uns cinco minutos no máximo. Se a gente estiver na rua, e alguém vier falar comigo, ela não gosta muito. Eu acho que é um pouco de ciúmes, ela é muito pequena, tem 5 anos. No geral, o que ela aprendeu é que a gente como jornalista passa muito tempo longe de casa, né? Perde apresentação da escola, aniversário e não pode buscar e levar todo dia. Mas eu não me acho uma mãe ausente, não. A minha relação com ela é muito intensa e ela sabe que pode contar comigo e que eu estou ali, mesmo não estando fisicamente toda hora. A gente tem a nossa relação. Cada mãe e filha têm uma relação, e a gente tem a nossa que funciona bem para a gente. Ela tá bem e segura com o meu trabalho, e diz pra mim: “Ah, mãe, tomara que eu goste um dia do meu trabalho como você gosta do seu”. E isso pra mim tá bom, sabe?! Já aprendeu uma coisa boa e espero que ela faça algo que a deixe feliz.

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